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sexta-feira, 23 de julho de 2010

Tai Chi Chuan na Psicologia

Saiba dos efeitos benéficos da prática do Tai Chi Chuan frente aos mecanismos de nossa Psique:

Muito do que repercute nas atitudes e comportamento das pessoas, foi construído ou alicerçado em crenças estabelecidas,, mediante nossa relação com os nossos pais e o que eles nos passaram, e ao longo da vida, pelo que o próprio social nos apresenta e nos solicita como padrões de conduta. Assim, um pensamento pode se traduzir em que “você é aquilo que você pensa”, ou, “isso é assim mesmo!” o padrão mental que você estabelece, atua como um comando para suas atitudes e ou ações. E já disse Henry Ford: “se você pensa que pode, você está certo, e se pensa que não pode, também está certo”.
Rudolf Steiner, primeiramente médico teósofo depois antropósofo alemão e criador da pedagogia Waldorff, coloca que a criança até os 7 anos não tem censura, apreende tudo o que lhe é passado, e toma como verdade, e aí surgem as crenças que o acompanham na vida de adulto, e que, dependendo desta crença estabelecida, o conduzirá bem ou não às situações da vida.


O indivíduo então, embuído destas crenças, sofre influência do meio e da vida interna psíquica, e sente o medo em falhar, ele próprio lhe cria os obstáculos; no trabalho é esperado que se produza dinamicamente, com competência, ou apresentar desempenho mais criativo; as tensões decorrentes de conflitos familiares, ser sempre forte, sobretudo, “o estado de insatisfação e tensão crônicas relativos ao padrão de vida que valoriza “o Ter” para poder “Ser” algo ou alguém considerado nesta sociedade de consumo, e aí surge o estresse ou a depressão; constantemente cansado, tenso, ansioso, o estressado percebe que a sua produtividade despenca, gerando o sentimento de não conta das coisas no tempo e qualidade que é esperado.
O “stress” apresenta três fases: - alarme: há um choque, ou você foge, pelo medo de encarar ou ir para a solução, ou luta, desgastando-se mais do que se encontra.
- de resistência: o indivíduo recupera-se da reação emocional de alarme e tenta enfrentar a situação, que pode durar fases ou anos, gerando sintomas como hipertensão ou crönicas;
- de exaustão: já há a doença, se não se trata, pode ocorrer um infarto, uma úlcera, ou gastrite ou doenças degenerativas como o câncer ou até no máximo dessa exaustão, a própria morte do organismo. Vale registrar que, segundo dados médicos, ocorrem anualmente 700 mil casos de infarto, dos quais 350 mil falecem, e destes, a metade vai à morte antes de chegar a um hospital.
Então, o stress advindo tanto dos processos de medo, de esgotamento mental ou psicológico, e também quando agimos com agressão, irritação ou angústia, hormônios e neurotransmissores são emitidos (as glândulas supra-renais produzem adrenalina em grandes quantidades), os quais são processados no Sistema Límbico, região de nosso cérebro onde ocorrem as emoções. Muitos anatomistas consideram que muitas regiões do cérebro, incluindo o paleocórtex, o hipocampo, a área septal e o hipotálamo compõem uma rede integrada, que é este sistema límbico (regiões estas que já foram chamadas de “sistema visceral” por alguns dos sinais que controlam o processo da digestão), sistema este que está claramente envolvido na expressão dos estados emocionais, o que acabam por estressar fisio-psiquicamente a pessoa. A emoção é um sentimento-descontrole, pois o indivíduo está contido e não resolveu!, diferente do sentimento, em que ainda há algum controle; para alguns psicólogos, o sentimento nada mais é do que um pensamento inacabado!, por isso precisa também ser diluído.
Neste sentido, urge e torna-se providente o trabalho corpo-mente, através do qual nos auxilia a buscarmos e nos mantermos em maior estado de consciência, porque a sua falta é o maior vilão dos tempos em que vivemos, e também restabelecer e integrar as quatro funções psíquicas de que C.G. Jung, psiquiatra e profundo e eclético pensador e o maior discípulo de Freud, nos diz em suas teorias e experiências, aproximou-se muito dos anseios da alma, que são: o pensamento, o sentimento, a sensação e a intuição, para os quais nos propõe passear por essas quatro funções, e não só buscar um pólo e outro, e, paralelamente, integrar e equilibrar os quatro elementos terra, ar, água e o fogo, em que os alquimistas propõem que circulemos por estes quatro elementos, e chegar a Quintessência, que seria a junção dos quatro, para balancear a Energia.

O Tai Chi Chuan com os seus movimentos lentos e circulares, aliados a uma respiração elaborada e profunda, corrobora significativamente para esse balanceamento da energia, atuando diretamente no Sistema Nervoso Humano, através das fibras nervosas autônomas, no sistema nervoso autônomo, que governam estruturas como o músculo cardíaco e as glândulas envolvidas nas respostas autônomas como o choro, a sudação, o batimento cardíaco, ou a dor de estômago, comumente relacionados a comportamentos emocionais, e opera beneficamente, acionando neurônios a favor de funções conservativas e armazenativas do ritmo cardíaco, digestão, constrição das pupilas, do sistema glandular etc.
Toda prática meditativa, e aqui se tratando do Tai Chi, tem esse propósito de integrar o que está se passando interiormente(estado psíquico) para com o corpo. Quando sei das minhas limitações, defeitos, começo a aceitar e não jogar para o outro; perceber já é um grande passo, é um ponto de partida para a mudança. Sendo o Tai Chi um complexo de exercícios que levam à meditação, é preciso limpar; nos pensamentos que surgem, não se deve julgar, criticar, e ter sim, uma atitude observadora daquilo que ocorre consigo - aí você pode trazer algo do seu Inconsciente (quando se está preocupado, não se está presente).
Os alquimistas para chegarem a um objetivo, repetiam a mesma operação várias vezes, pela idéia de que a matéria tem que circular e combinar em cada operação. Através dessa circulação é que se obteria a Pedra Filosofal – uma pedra que não se derrete, ou não se mistura a outra, é descobrir de onde a gente surgiu, a sensação de algo que nasce, solto e que vai desenvolver o Ego; é a “Criança Divina”, a integração da personalidade, o casamento da alma e do espírito, do consciente e inconsciente, enfim, a matéria bruta original que vai se depurando até ela revelar sua essência, o seu espírito.
Assim, o fundamento Tai Chi é o que os alquimistas trabalham com a circulação da Energia do Céu e da Terra, através do indivíduo; o resultado é a circulação infinita de Energia. Aqui se fala do movimento circular, que em si não é perfeito, não precisa ter direção, e não tem prazo fixo, e, segundo o princípio circular, e o de Yin e Yang, o caminho para o desenvolvimento não é uma linha reta e sim circular, e este é um dos princípios essenciais da arte Tai Chi.
Movimentos circulares e melodias tocantes ajudam a refinar o estado “Água”, entendendo-se aqui este estado como as nossas emoções, e que as reprimimos ou exaltamos, devido às preocupações e à vida atribulada. As emoções vão trabalhando o que há dentro de mim, abrindo portas, sejam emoções boas ou ruins.
É muito importante então o trabalho corporal para progredir, pelo fato de desenvolver um processo psico-físico balanceado, e isso é responsabilidade de cada um, da própria pessoa.
O corpo é a nossa primeira base de consciência instintiva, de fome, defesa, através dos quais a consciência emerge. Para isso, o trabalho corporal é mais direto que o verbal; não se esquece, marca ; o resultado vai aparecendo; e sendo o Tai Chi uma meditação no movimento, o ato de meditar conduz à Totalidade, ao encontro da consciência de si mesmo.
Nossa consciência não se cria por si mesma, mas emana do profundo desconhecido; a Consciência tem que ter alimentação constante, e o Ego é figura essencial, por ser o mediador entre o Mundo Interno e o Mundo Externo. A consciência só sobrevive se estiver ligada (via símbolos) ao Inconsciente, e para isso a Totalidade é necessária.
A consciência só aparece quando a partir de algo que conheço, consigo discriminar, separar, não ficar preso às referências do “sempre”, senão não mudo, e o bom da consciência é o poder de fazer escolha, e aqui o Ego faz o seu papel de discriminar, separar, compreender e juntar as partes, e conduzir você à Consciência. Tudo o que passar pelo Consciente, necessariamente passa pelo Ego, que é quem faz acontecer a possibilidade de algo vir a ser. Ele é o centro do campo da consciência; é um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência, e a seguir, pelos registros de nossa memória. É ele quem atrai os conteúdos do Inconsciente. E quando o Ego puder expressar o pessoal e o universal junto, estará expressando a totalidade.
O Tai Chi promove pelos seus movimentos lentos e suaves, o efeito de gerar o estado de calma e clareza mental, proporcionando a discriminação anteriormente tratada , levando a pessoa a tomar consciência do que lhe está ocorrendo ou de como está agindo. Para chegar neste estado, houve o diálogo com o Inconsciente, este que por sua vez, gera criatividade, pois tudo o que interrompe o fluxo natural, leva ao estado inconsciente, e por isso possibilita a pessoa poder tomar uma atitude adequada frente a uma determinada questão.
ex.: um nível de consciência - digerir, assimilar = compreender (um nível intelectual,
abstrato), ou seja, “ preciso tentar aprender a nadar, para saber que sei nadar”. A consciência evolui do concreto para o abstrato e o simbólico. À medida que se toma consciência, se equilibra a energia.
O Tai Chi Chuan praticado com a música, gera as sensações, com os símbolos de cada pessoa, e aí deve-se valorizá-los. A música traz símbolos, quando um exercício está difícil de fazer, deixe a música entrar, penetrar; o Símbolo é um transformador de Energia; refletir quais símbolos que significam mais para você, quais as ações que tenho que ter, relação com as pessoas, com o dinheiro, com o material, e depois perceber que esta dinâmica vai mudando com o tempo. Identificar quais símbolos mudaram. Ex.: quando se está em crise, tudo está chato, ruim; é porque meus símbolos não têm mais sentido. Então para encontrar novos símbolos, é importante saber o que a alma pede, é preciso escutar o Inconsciente.
Há movimentos no Tai Chi que quando exercitamos, fazem parte do momento de vida, e, às vezes (na dificuldade o ruim aparece, mas precisa ser vivido, para que haja a organização interna). Se você está triste ou irado – ver como você olha para essa tristeza, essa ira, refletir porque ela está aí, não lhe será útil para aprender algo, e fazer as mudanças necessárias?
Pode-se buscar receitas, mas, é experimentando que você entende, apreende, e pode enfim, compreender.
“Renda-se, como eu me rendi,
Mergulhe no que você não conhece
Como eu mergulhei,
Não se preocupe em ‘entender’
Viver ultrapassa todo entendimento”
( Clarice Lispector – “A via crucis do corpo”)
- é necessário humildade frente a alguma dificuldade (são campos energéticos em trânsito em nós) podem aparecer em várias áreas – cabeça, tristeza, sensação de insegurança etc.
- quando nego ou reprimo a minha natureza, nego a mim mesmo
- à medida que começo a me enxergar, posso fazer transformações e reciclar; tudo é passível de mudança, temos essa capacidade, para isso é necessário mudar o modo de olhar! “Se tenho energia, faço as transformações necessárias!” (S. Freud).
Segundo Jung, o indivíduo, na busca de se tornar mais pleno – Processo de Individuação, isto se dá no dia a dia, na vida, algo que acontece aqui, outro ali, pequenas atitudes e “insights”(cliques) que formam o indivíduo.
Para isso, é preciso a conhecida Paciência, que, oportunamente, o Tai Chi proporciona pelos seus movimentos e filosofia. É na “Sombra” (aquilo que relegamos em nós e escondemos em nosso Inconsciente) que estão os segredos da vida, é nela que você cresce, muda, e aí percebe que tem pé, dedos, mãos etc., descobre que tem mais firmeza de pisar no chão, “quando vai, vai!, quando fica, fica!” ; há uma idéia que surge, uma consciência. Esta prima-matéria começa a te definir que o corpo tem uma forma.
Somos ocidentais, e pensamos e levamos tudo para cima, para a razão, e a parte de baixo fica esquecida. A seguir, então, é importante dizer do “aspecto grounding” (enraizamento).
Trabalhar da cintura para baixo, o que é muito enfatizado no Tai Chi, dá a sensação de firmeza, de saber onde se está pisando; trabalhar a flexibilidade do joelho para estabelecer a flexibilidade dos pés com o chão. À medida que movemos a região do quadril, vamos ter mais disposição e energia. Todo o nosso movimento, ação, depende de alinhar esse chacra (região), e aí a energia flui, a cabeça melhora e compreende-se o medo.
Toda vez que se trabalha na pessoa com a energia da pélvis para baixo, está se trabalhando com o lastro, e no Tai Chi Chuan, com a Viga Mestra, para obtenção do Equilíbrio do Centro, assim como também é referendada a força do “centro vital”, em “Hara”, de Durkheim, K.
Reportando-me um pouco ao início quando tratamos do estresse, pensar um pouco na “noção de cáos”, que é aceitar descrições multifacetadas (possibilidades diversas de um mesmo objeto), que se comportam aparentemente de forma contraditória. Aceitar que o caos é gerador de novas formas, que traz em si, um ritmo e uma ordenação diferentes das habitualmente conhecidas pelo Ego. Aqui, se abre para o Pensamento Criativo, que trabalha com o desconhecido. Dependendo de como eu encare um problema sob um determinado ponto de vista, este pode deixar de ser visto como um problema, e veja a magia, passar a ser uma forma de aprender e ser até gratificante.
A vida nos convida a explorar várias direções, para encontrar novos significados e olhar uma ou mais situações de modos diferentes e criativos, e, se mantenho uma posição, eu não mudo; um condicionamento se torna um automatismo! , e geralmente não mudo por medo, orgulho ou fantasias.
É preciso reconhecer que o caminho está entre dois opostos –
“canto e morte da cigarra na mesma paisagem”(Bashô – “o livro dos hai-kais”(1983), “o ir e vir”, assim como o princípio oriental “yin e yang” – destruímos e novamente criamos, e nesta dinâmica é que aprendemos, abstraímos, intuímos, e com novos padrões de atitude, agimos.
Este padrão de pensamento e princípio se expressa e se insere na Forma do Tai Chi Chuan, a “Forma Tai Chi” te conduz de um lado a outro, te põe de cara com cada novo ângulo, e cujo movimento é ascendente e no seu pico se torna descendente, transfere o peso de uma perna a outra, inspira e expira, contrai e relaxa, braço sobe e braço desce, e assim, contínua e espontaneamente, em movimento análogo à vida. Esta forma de pensar e agir transforma nossas crenças arraigadas, e de repente podemos abrir mais os olhos e constatar: “nossa! é mais simples!”
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”.
(FernandoPessoa – “O Eu profundo e os outros Eu” - 1980)

Referencias Bibliográficas:
“Movimento expressivo e processo alquímico do Corpo”(Inst.Sedes Sapientiae, por Vera Lucia de Almeida/”Abordagem Junguiana – uma leitura de realidade e metodologia de trabalho”(PUC/COGEAE)/ “Fundamentos da Psicologia Analítica”(C.G.Jung) SP-mar/2002
Tai Chi e Psicologia.doc
Fundamentos de Psicanálise – Psicanalista Marcos Marc André Keppe.
Psicologia – Livro Básico – Lindzei e co autores.

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